quinta-feira, 30 de abril de 2015

Sílaba



O que sentia Donna ao atravessar esquinas da cidade aonde o espectro e seus lábios e olhos e pele a abraçara com força, sangrando as carnes que  coabitavam-se gritando a dor muda sem signo de ambas, ambos gritos sem código, sozinhos em seus corpos não lidos, engolida saliva áspera abaixo, linguagem vertiginosa, as pernas sempre frouxas e a boca, desenho fechado que as cordas carcomidas pelo acido, o que faltava, ainda saliva do corpo externo; restos de restos de lixo e animais mortos, passos desconhecidos e pneus; gargantas psicóticas, escuridões  e vultos, fundidos ao espectro, existência: que se fundia a água, modificando-a, engolida áspera aproximação; anexo:  lenta, lerda e tensionada,e moinhos que a madrugada; terreno incerto, molveidiça idéia de chão, se faziam observadores a busca de satisfação a seu paladar cruel e metafórico no asfalto que teus saltos; engenho, designer,recurso,que te empoderavam de efeito os olhos a enfrentar outros ,que desconhecidos olhos; guardavam finalidades de rios sangrentos, adulterados alimentos a verter o corpo a uma dobra, curva, tormento,a um obstáculo de si,a padecer lentamente ao prazer dissimulado alheio pela mortificação, e outros menos humanos; líricos e melancólicos, carentes corações; músculo do Amor, veias exterior ao corpo iluminadas pelos astros: mancas ,movendo-se sob a luz entre espinhos de flores murchas e uvas azedas, chorosas criaturas presas em pergaminhos mágicos , e tudo é chá, charutos e arpas e Amor, e uma boa noite de sono após o banho num rio de leite nalguma montanha enfeitiçada que Girassóis e Hortênsias e Tulipas cantam o Tempo  Amar.
No vento que cada criatura deixa; rastro, de alma passeante a procura calculada da satisfação do envelhecido papel que queima em casa, em terra, em alma, em espelho e céu e inferno criados, Donna sentia-se beijada pela solidão paralitica da mulher profunda, que notas de um samba choroso evocado pela boca andrógena de palavras foscas, pronunciava, e os sopros, o vento que há nas notas, a fazia fechar os olhos e aceitar companhia; a transmutação biológica do encontrado, a experiência, possesão e o Tango sangrento de corpos rígidos que dançam juntos  ferindo a carne suada uma na outra em sangue a deriva do palco, desenhando geometrias solitárias no passo perfeito da ilusão de univocidade, movimento aos olhos alheios que pouco te olham e também a Dama.
Ela e a noite: imagem portadora de único significado.
A passos lentos, felinos: orgânico  instinto natural da noite na rua, um espelho refletor do seu objeto que se busca, agora outro, ilusão sua tocada do macropensamento, ela liquido solido; geométrico, ingerível , não etéreo, é o Sim. E já não há diferença entre máscara e pele. Sim. Os olhos, obedientes a geografia, florecem qualquer cor. Sim. Eu não tenho sobrenome. Donna. Sim. Sou verbo; classe de palavra que se flexiona em pessoa, número, tempo, modo e voz. O que caracteriza o verbo são suas flexões e não seus possíveis significados, sou. Sim.
Donna entra no carro.


Porta-retrato do mar.

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