sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

O relógio



De chegar a ser: A forma.
Errada à inadequação ao medo do nada.
Fixo-ser-se, repete-se replica-se o mesmo: não responde a correnteza.
Pelo rio, passaram-ão os pés.
Ciência tem o corpo inteiro da Não.
Mudança-chegada a alguma parte:
D’água correndo.
                         D’vento escapando.
                                                       D’terra moldando.
                                                                                  D’fogo clareando.
Paralisado corpo:
Não-sendo.
Preso em si.
Nas horas.


Porta-retrato do mar

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Versos costurados de desterro a Mariana



Mariana, nunca mais me beijou.

Gostaria de te contar sobre sonhos medrosos lamacentos enevoados.
Me ajoelho aos insensíveis em ternura que a mim desejo, busco compreensão.
Acendo vela, queimo assim tempo a eles.
E não me deixa de beijar nunca mais, Mariana.

Desejas tanto assim, Mariana
Não me beijar nunca mais?
E o que sentistes quando encaminhou felina tua língua molhada naquela manha qualquer de mascaras para dentro da minha boca?
Vamos atirar um limão n’água juntos, Mariana, te imploro por esse vasto mundo.
Não te lembras nossa estrada, a caminhar pés experientes subidas ladeiras interior sobre o sol rachante, acompanhados em lírica por Carlos gauche?

Meus olhos reféns apenas tiveram a liberdade de ver o que entre as pernas há, de uma outra. Animal mentirosa de si, farsa. A empurrei no poço da memória pela fidelidade a ti.
Nada em relevo marcava aquele grosso pedaço de pano desbotado.
Quanto aos homens amantes, é o que há de mais selvagem na natureza interna da epiderme que uso, corre desejo vermelho por todo meu corpo a esse animal, carne masculina, não me obrigarás jamais a exorcizar esse gozo.

Procurei em desespero por tanto tempo sujeitos que desejassem possuir tua semelhança própria confundida no espelho, pura solidão. 
Abandono em águas escuras, a vista desse pensar.

Uma capelinha de melão ao lado de Narciso e uns quadros de Bacco acompanhados de flores tóxicas, vinhos, cigarros em consumo e algumas pedras místicas amontoados em um artificial campo de areia que nômade veio ao meu quarto trazida ainda pura para a construção no cercado pelas mãos de onde o mar arrebenta me traz acalanto.
E depois que as palavras na carta, turvas ficaram, não pude mais saber sobre tua língua em resposta.

Admito: Amado foi o rapaz de tecido recortado saia que cobria a escultura que desejam entradas de todos os que se alimentam de prazer fálico.
Me custou muito pouco, disse sobre homem cheiroso que sou, esse cheiro seu. Sobrevivendo em minha pele, somos nós, também poderia custiar barato ou nada pelos serviços a favor do teu aroma, ó Jasmin, minha de manha Flôr de laranjeira.


Comecei a amá-lo, Mariana.
Cego eu, já caia você, no esquecimento.
Escapastes turva, e as palavras, e eu não enxergava, e o desejo o amou.
Meu corpo gritava dependência daquele homem.
Passara a procura-lo em cantos dos mais perigosos. 
Felino de rua, esquinas escuras passeavam os pés sabidos.
Não te revelo o nome, é o meu segredo.

Arranquei casca da ferida dos meus lábios que se reconstituía pele, absorvida  pelos dele.
O que poderias entender você furiosa, um crime a espera da resposta da tua língua que cedeu minha boca ao desejo da carne que me devorava inteiro corpo aquele homem?
Porque os queria lisos a procura da tua boca. Ainda te queria.
E o teu sexo que nunca provei.

Não me deixe com sede, Mariana.


Porta-retrato do mar.

sábado, 8 de novembro de 2014

Us em exercício.




É:
sobre um Sorriso.

Foi visto após os pés descalços de somente meias que atravessaram quase atrasados a porta nem tanto velha para a idade do espaço, quem sabe se reformada, talvez explicasse ela como porta o existir do se- para então, velho o local com estandarte azul grafado em torre branca acinzentada, o tempo assim a deixou, formula-se crescendo como um rio, o conjunto.
Foram plurais, para ser mais preciso: o.s riso.s visto.s.

Soul-rio, expressou-se assim, pareceu com gosto e um meio desgosto disfarçado em gosto sobre algumas vozes pouco interessadas em descobrir a:
Escrever-se-iam parágrafos solitários sob palavras orgulhosas sobre:
Um corpo cai. Dois corpos caem. Três corpos caem. (...)
Em páginas já rabiscadas com caprichos dos movimentos daquele que não pode ser revelado. 

Peixes de todas as espécies queriam comer.
Quereriam comer a noção em informe?
Horas?
São precisas para canudo com, beber água da profissão no trânsito das representações: As mascaras que vão colocar quando adultos ou nem, exigidas pelo fluxo em rotação: Sociedade, ou o que denominamos de: Sociedade?

Não te congeles na porta, a voz parada não me disse sobre: o resto, ele o há?
[...]
Então adentrou e viu uma voz em alma sorrindo que parecia um rio?
Olha, sim.
Saberás descrever um sorriso rio crescendo em ti, quando o ver?
Olha, não.
[...]

Procura-te naquele momento a lembrança do resto, ele o houve?
Listas.
Estradas horizontais: desenhos de rios vermelhos, talvez amarelos: vermelhos e amarelos: contornos cinza, não parecia o tempo ter sido o causador do que a torre foi, traços muito jovens.

Alcançastes o.s.o.rri.[...s].o.s.?
Não.
Não.
Não: possibilidades de fixar Um rio. O rio. Aquele rio. Nenhum rio.
Rio-se-é.

Porta-retrato do mar

quarta-feira, 30 de julho de 2014

A-social.



E Eu, eu, eu ... Oooooooh
[...]

Ecoa em mim, esta voz: “ O que você quer fazer?” ao captar àquele homem dos olhos sérios demais.  As tardes de quarta-feira costumam ser exclusivas ao tédio, em sua essência.
Não houve ponto de partida, proliferou-se tão rapidamente que eu me vira possuída pela multiplicação que arrebentara o medidor de velocidade da criação, em meu corpo, aquela fala que acabara se tornando sussurrante, e olhava o zíper, todo o meu corpo , a esperar o convite àqueles objetos que se escondem por trás dos panos.
Trato aquilo da forma que meu corpo clama- e ele pede objetos.

Costumava meu corpo sentir vontade de expelir merda enquanto andava de ônibus, e um dia desses qualquer, que nem me lembro, descobri o por que. Tem a ver com as pessoas e a sua falsa limpeza, pudor, os olhos que lêem a mim pelo espelho da construção do ser ideal, seus objetos adequadamente alinhados ao corpo. Meu individuo atravessa toda essa convenção.

Tenho certeza que ele é pedreiro, cochichou meus dedos ao umbigo e continuava a fofoca descendo quente-quase-molhada para esquentar minhas coxas sobre o avistado.

Reprimi a merda, talvez tivesse que usar a entrada por onde se evacuaria os seres humanos mastigados e digeridos pela tolerância, acreditando ainda que a consideração de tê-la deixado na porta era bem mais próxima do real. O pau dele deveria entrar em contato com os seres que lida diariamente sem ter muita noção. Me parecia muito inocente e bobo, apesar de achar que o pau deve mesmo sair melado de merda- não quis arriscar essa liberdade que levei meses para construir com os cobradores do Circular Cidade, ele poderia ser religioso demais para entender a complexidade de um pau melado de merda e a sua relação com os homens-sociais, e seguia com a certeza que iria me possuir ou pelo menos acreditar nisso- as mulheres são especialistas nesse fazer, isso; fazer os homens acreditarem que são os grandes possuidores de tudo. Afinal- O homem adora exercer poder sobre o outro, e não importa por qual instrumento- O buraco do cú é singular comum aos dois sexos- E não importa ser cú de mulher ou cú de homem, trata-se de que comer um cú é pratica que domina, enquanto dar relaciona-se diretamente com submissão, pobre são os homens-assim.

Eu estava armada, sem sutiã, gostaria  em todos os meus momentos de caça, que os bicos dos meus seios ficassem molhados como se encontra a minha boceta.
Apontando estavam, os bicos, para a presa. Oscilante, pensei: “ quando me aproximar como uma onça faz, em teus passos leves e sintonizados a boca ao alimento e os meus faróis roubarem-lhe a visão dos olhos, empedrarar-se, esse homem, ao imaginar teus lábios carnudos em meus bicos fartos”

Fui.

Encostei felina em teus braços, olhei faminta tua face.
Sorri quase passivamente e meus olhos começaram um processo de mastigação daquela carne surrada.
Toquei suavemente teu rosto e murmurei: “Meu sexo te chama”
Sorriu, aquele homem, um riso inocente de quem não levanta o pau com facilidade, provavelmente a religião o adestrara psicologicamente.
Continuou apenas sorrindo, seu não movimento algum alem o do maxilar me excitaria mais ainda, e então notei seus pés; cheios de terra preta e depois as mãos; exposta uma grossa camada de lodo entre a pele e a unha, fizeram minha língua movimentar-se a umidificar os lábios, como uma sedenta de tudo aquilo e o movimento fizera então, levemente um volume emergir ao teu jeans desbotado.
Pouco cabelo cobria tua cabeça, provavelmente costumava passar a maquina. Para compensar essa subtração que havia na parte que foram construídas janelas, aspiradores e muitas vezes privada, animalescamente, coberto de pelo, teu corpo exalava cheiro de gente, do sovaco as virilhas, cheiro de gente viva, gente que se Fo-de, e era essa fúria que eu desejava que fosse despejada desde o começo, inteiramente em mim.
Sua camisa cinza toda esfolada espaçava  teu peitoral peloso da outra parte do pano, a não esfolada.  Constatei que ele trabalhava arduamente com as mãos, lembrei do lodo e as veias que eram tão grossas que poderiam ser introjetadas em qualquer entrada, frente ou verso, causaria ao espaço adentrado uma sensação enervadora que iria pedir cada vez mais e mais daquilo até ser preenchido conforme o desejo, crescia então , o pau, dentro da cueca, e era bem espesso-que bom, pensei- e por mais que essa vontade vulcânica de ser rasgada em pedaços me fizesse com que o adentramento acontecesse ali mesmo, no ônibus em movimento, com todas aquelas mascaras a nos olhar, que provavelmente fossem nos linchar do convívio social, esperei pacientemente todo sangue ser bombeado para aquele objeto até que ficasse inteiramente rígido.

Meus movimentos não foram discretos e facilmente passiveis de leituras diversas, daquelas que aproveitavam a situação para se masturbar ao chegar em casa, alguns outros com olhos convidativos, lambiam também os lábios na tentativa de ser aquele,dele, o pau a ser colocado em minha mão aos socialmente retangulares, como: Promiscua!, ouvi uma senhora gritar, com olhar de ódio que carregava uma garota com marcas de 12 anos atravessados enquanto chupava divertidamente o seu pirulito cabeçudo. Começaram  a me enterrar, uma tentativa meramente inútil, as pessoas do ônibus, havia um garoto com seus prováveis 17 anos, marcando com as mãos, induzindo meus olhos ao convite do grosso que fazia relevo em tua calça- estava em ponto de bala- pronto para atirar tudo em mim, o pau do garoto, os olhares do ônibus. Passara a ficar constrangido, o pequeno garoto com os tiros direcionados a ele, e seu pau murchou.

Egipciamente cantei aos ouvidos dele: “ Assalta-me o prazer. Há um oceano querendo afundar a tua garganta. Rouba-me esse momento. Quero gozar em você”

Porque é disso que gosto, do cheiro de gente, quero toda margem em cima de mim.
Pedreiros, cozinheiros, mecânicos, entregadores de cartas, garis, padeiros, marceneiros, mendigos, hippies, puxadores, skatistas, grafiteiros,camelôs, ...
Porquê todas as partes do meu corpo são órgãos sexuais e cegas para tua raça, teu físico, teu espírito.

Não sorrio o homem, seus olhos continuavam sérios, também seu pau, duro.
Portas abertas, pernas a caminhar, nenhum olhar para traz,
Desce, ele, naquele ponto.
Era muito deserto e ele começara a se benzer.

Águas escorriam pelas minhas pernas,
E ali mesmo, gozei.


Porta-retrato do mar.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Lápide




Fora-se Terceiramente.
Conjugou em tempo os olhos no imperativo. 
Dos degraus repetidas vezes descidos,
negava. Queria transformar em eternidade o negar dos olhos a lacrimejar sem chover, 
em teu corpo,
o temporal, 
colecionando nuvens que faria, mais tarde, teus olhos em carne viva.

Ninguém deu importância a morte das flores egípcias, 
Trinta e Nove não havia, naquela semana, enviado escrito algum sobre tua distancia do mundo, nenhuma resposta sobre A Esperança  e o falecimento da Gerbera.
Não pensava em Rubens, o sexo de Trinta e Nove já não era tocável a mente criar estranhas sensações a pele.
Sentia-e-sentia-Sentia-se livremente desesperado.
Não sabia- não sabia- Não conseguia saber de nada.

Contia na beira dos olhos, o peso do inverno mais seco que vivenciara. 
Na profundidade do terreno, aonde água não conseguira chegar e no gosto de todas as mortes engolidas pelo temporal, das vitimas à Rubens-Roberto-Trinta e Nove à formação do zigoto ancestral na cadeia evoluída da geração.
[...]

Riscou-lhe a mente, um pensamento-desejo de subir todos esses anos pelos degraus e matar o bichano, arrancar-lhe todo carinho dedicado-atirar os ovos nas replicas baratas das obras de arte-cortar a raiz de todas as plantas que traziam uma falsa paz-retirar com  garfo, atravessando a estrutura física, os peixes já ha tempos mortos, pela apatia e colocar em cada arranjo de flor-despejar álcool sem medida e queimar tudo, ver tudo queimar em rapidez tamanha que nem desejara perceber-enquanto fumava um cigarro-porque abandonara esse vicio em falsas virtudes caprichosas de Rubens-que fumava dois maços por dia:
-" Mas, eu posso, preciso para produzir, você não é artista,  só coleciona números- vive preso ao escritório da tua empresa aonde dedica mais de 8 anos especializando-se em uma subárea da matemática, formou-se em especialista e o mundo está cheio, de especialistas das ciências e das subciências, enquanto eu, ando atravessando todo esse tédio cientifico,  além do mais, você nem sabe fumar, provavelmente fez isso para meus amigos te acharem no minimo-interessante, um pequeno falso reflexo meu", dizia arrogantemente como se minha vida fosse banal.
[...]

E, talvez, por fim, enfiar a cara de Rubens na privada enquanto ele bebia-forcadamente água-para engolir o bichano com tripas expostas.

E, talvez, por fim, poderia-teus olhos desaguarem e mudar de estação-gota a gota.

Continuava reverso, ao maldito prédio Trinta e Nove em frente a um enterro.

E, talvez, por fim, jamais conseguirá chorar na vida, 
outra vez.


Porta-retrato do mar.

domingo, 22 de junho de 2014

Pragmatismo, Rubens.








Pragmatismo é o que te falta, Rubens.

- Quererás sonhar para o resto da vida?

Continua atirar verbo no sujeito.

- Essas suas escritas nada mais são do que uma combinação de palavras que soam bem aos ouvidos,        quando pronunciadas com um falso sotaque estrangeiro a sua região, muito raramente aos olhos.

Rubens torna-se-ia o terceiro ângulo, e começara a desenhar-se no tempo.

- Tua vida é tão histérica e banal, sabia, Roberto?

Sua metralhadora de verbos era potente e seus ouvidos pouco afinados para pensar, então continuou:

- Adjetive minhas praticas da forma que quiseres.
  Três, Três passos luz caminharei para outra atmosfera.
  Me responde uma coisa, Rubens:
  Conseguirás, até quando, ir contra o percurso das Horas?
  As horas se passam, as horas se passam, As horas se passam em um instante.
  Atente-se a vida.
  Vou te deixar.
  [...]
  Uma breve-constante previsão do tempo, já que vives dentro de si:
  Ele não Para.

Foi-se, Roberto, mais uma vez.
[...]

Os únicos rastros que deixara, fora a ausência dos objetos que havia levado na ultima visita.
Sem o ovo na água para cobrir o silencio com melodia, nenhuma torneira ligada.
Sobrou-lhe, silencio e o nada.
[...]

Encontrava-se entre as 23:30 e a 1:00 da manha,
não sabia exatamente em qual minuto de qual hora.
O relógio estava ausente de pilhas que havia sido levadas por Roberto, os ponteiros já não mais trabalhavam com horas.
Supunha 24:06 da madrugada, por ter, finalmente, sentido algum tempo se passar após a partida dele.
Longe do sono chegar para trabalhar, foi Rubens à horta ainda jovem, recém plantada pelos dois que já-não-são, colher hortelã para ferver com leite, como na personagem escrita por ele, que rebentou-se no mangue por desobediência, ora, havia optado pela liberdade e fora massacrada pelas obrigações,
não importa.
[...]

A medida que se movimentava com os pés,
dava um passo, sentia um passo de cada vez.
O andar implicava os olhos que agora alinhados com a mente, estavam a indagar.
Tateavam lentamente as paredes, as quatro portas e seus rabiscos, dois banheiros e os quadros abstratos.
Provavam os olhos com precisão a ausência das coisas e se fecharam com uma certeza:
Ele se foi.  

Porta-retrado do mar.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Interrogação, Rubens.








Você gostaria de continuar a viver de finais, Rubens?

As chaves ficaram, junto a escritura da casa e mais um adeus.
Pela escada, desceu leve e finalmente livre.
Pelo ralo, foi Rubens.

- Ta ocupada? Ta ocupada? Ta ocupada?
Repetia, perdido, sem ao menos se dar conta do ovo no fogo.
Não a deixou responder.
- Conte-me uma historia, breve ou longa.
-  Meu pai costumava colecionar as baratas que o velho falecido Pedro, o gato de rua que criávamos, matava e trazia, ao final de todo mês, nos comíamos uma torta de 15 cm de diâmetro, era sempre recheada de amoras, framboesas e morangos, as baratas mortas eram retiradas dos quadros em que o pai as colocava, assadas a 200º graus por 40 minutos, logo após, trituradas e colocadas sobre a torta, nunca soubemos o que era aquele crocante, ele nunca nos dizia do que se tratava, afinal, ninguém entrava na cozinha enquanto ele preparava alguma refeição, aquela velha fala de Mestre-Cuca: - “Segredo do Chef”. No funeral da vovó, enquanto discursava, nos revelou o segredo do crocante da torta de frutas vermelhas. Levou consigo um saco que não sabíamos o que continha, após terminar sua fala, despejou no caixão da vovó 10 quilos de baratas assadas. Tudo bem contigo Rubens?

A energia cai.

Rubens não se movimenta.
[...]

Vai ao fogão.

Acontece uma harmonia entre a água fervente e o rachar da casca do ovo.
Ele a percebe. E a ouve. E a observa.

Restava pouca água na panela, e fazia agora um barulho.
Foi-se a harmonia, pensou Rubens.
Esperou toda água entrar em ebulição.
A gema já coloria a clara cozida em amostra.

Seca a água.
[...]

A Esperar.
Espera,
..., e espera.
[...]

Esfriou o ovo, o tempo.

Rubens descasca a cria morta do frango, cuidadosamente.

A energia sobe.

Com luzes florescentes e luminárias importadas a clarear qualquer observação
Rubens toca o ovo. Rubens sente o ovo. Rubens analisa o ovo,
já com sua clara pintada com o amarelo fosco da gema.

Dois fios pretos, com tom de marrom sai vagarosamente do ovo, mantendo-o intacto.
Não há susto.
Parte ao meio, e dali, um parto.
Com asas ainda frágeis, voa uma barata e posa próximo ao aquário,
aonde os peixes com suas vidas presas e monótonas nada observam.

Cai o ovo partido.

Estende a mão, Rubens.
Clama: - Minha querida, o velho Pedro não está entre nós, somos apenas eu e você.
            - Vem ao meu encontro, te olharei com os teus olhos.

Voa débil a barata à mão estendida de Rubens.

Olham-se, silenciosos.
Pensamentos são calados,
todos,
pela ausência dele.
[...]

Comeu,
desta vez,
o parto cru e vivo.

A energia cai.

Porta-retrato do mar.

sábado, 14 de junho de 2014

Virgula, Rubens.






Querido Rubens, estou tirando a vida.
Já não serve.
Até algum outro dia.

Acabou de se pôr o sol,
a noite desenhava rápida e precisa o céu,
sem o perceber de Rubens.
Estava a fumar e a ler,
a fumar e a ler, assim,
sem olhar para os lados,
seus olhos se tornaram vítimas presas àqueles garranchos daquele que decidiu ir,
sem resgate, não havia.
Naquele papel melado de sangue,
a voz rouca e vencida repetia:
- já não me sinto bem, o fogo da artilharia me acertou, àquele da vida.
- Já não me sinto bem, o fogo da artilharia me acertou, àquele da vida.
- A vida é bélica. - A vida é bélica. - A vida é Bélica.

Rubens tentava fugir do avesso.
Acontece que o verbo te penetrava a pele.


Porta- retrato do mar.