terça-feira, 29 de abril de 2014

O passo











Pesava um silêncio quase-tudo-que beirasse a solidão.
A morte parecia o querer como nunca ousara.
Sempre foi batalha ganha para o viver, até o momento
em que seu gêmeo  decidiu queimar a identidade e despir-se
daquela imagem semelhante a tua.

Pela primeira vez, após aqueles sete anos de puro caos,
te percebi morrendo.
Também, junto a ti, sem minha permissão consciente
comecei um processo de falecimento da alma.

Meus olhos enegreceram, da forma qual, não havia distinção entre iris, córnea e pupila.
E apesar de não haver nenhuma ligação entre mim,
 e o teu gêmeo, agora não mais, faleço.
Ora, por ti.
Sou-te, o resultado da união reprodutora pelo sentido atribuído por vocês, o amor.
Eu sou o seu passo a frente,
 antes mesmo de tê-lo sido pensado.

A procura por resignificações conceituais são constantes,
para que,
não te apedrejes,
como fazias a mim,
em um salto altíssimo sustentado pela moral e a Verdade,
que religiosamente acreditavas.
Armas usadas também por ele,um achado Rei Sol.

Me degenero com a tua dor, por seres o meu passo dado.
Não o a frente,
anterior, o processo de movimento até pouco antes de chegar a ele.

Eu significo o passo a frente.

Do processo entre você e ela,
sou o produto,
Vocês são o processo.
A medida que meu tato transmite a sensação de um passo a frente.
Eu-O-Sou.


Porta-retrato do mar.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Traje à rigor








Então, acordei extremamente embriagado.

Pouco a pouco,
adormeci com os pequenos goles ingeridos de cada pedaço queimado de arvore,
para em fim,
tornar-se folhas com rabiscos,
de perto do coração selvagem.

E ao levantar para as obrigações que nos caracterizam homens,
pedaços do velho espelho guardado tão cuidadosamente por gerações, estavam  espalhados por toda casa.
O melancólico céu cor de baunilha escurecia a cada momento que meu olhar tentava decifrar as formas que as nuvens desenhavam,
e começava a chover.

Pensei até que hoje seria um péssimo dia, ou,
os próximos sete anos,
devido aquela superstição feitiça,
carregada por meus ancestrais e
passada de antecessor  a progênito ,
até chegar a mim.

E desde as duas,
quando comecei a bebedeira,
adormeci as quatro.
Para as cinco estar de pé.

Ao finalmente tomar consciência da existência do meu espírito em meu corpo,
e achar tudo aquilo muito estranho,
desesperado telefonei a primeira pessoa que me veio a cabeça,
assustado com a noticia de que era um belo dia ensolarado e que tudo não passava de uma reprodução inconsciente do peso supersticioso carregado,
questionei se meu corpo e espírito, estavam no mesmo plano.

Os cacos do espelho espalhados pela casa,
que já conceituados por mim,
significavam azar durante os próximos sete anos,
não me impossibilitaram das necessidades diárias como tomar café, banho para manter-se limpo-e-apresentavél,
afinal,
tratava-se de uma decisão crucial a ser tomada,
despejada pela corporação em minhas costas,
 para não ser visto como animal ao olhar tão aparentemente correto do humano-social, o vestir-se bem, era “necessário”.

E sim,
Cumpri todos esses rituais religiosamente exigidos,
para melhor me apresentar, já que
a  imagem sobressai-se ao verbo,
em especial, na decisão a ter de ser tomada por mim.

Como esperado,
o valioso cheque-mate que corresponde a jogada final,
foi aplicado.

Com todos os caminhos já decorados e aprendidos,
essa redundância,
que até de olhos vendados, ainda estaria concreta.
Todos aqueles que me foram mostrados,
os que sozinho aprendi, assim
voltei para casa.

Tudo estava exatamente como já se tinha visto,
Até o céu cor de baunilha.

Há um cavalo em chamas dentro de mim,
que estão tentando domar
através desses fragmentos
de gerações-a-sociedade.
Solto então,
um grunhido desorientado para o viver.



Porta-retrato do mar.

sábado, 5 de abril de 2014

Rotação




O olhar segue um pequeno carro que atravessa cuidadosamente a ponte escura,
essa que separa meu órgão do teu, 
aquele que todos acreditam ter sentimentos,
o responsável pela dor.
Não cairá meu sentimento na culpa, 
se algo banal me acontecer no meio do caminho, 
caso aquele veiculo perca o controle e vá em direção ao mar, 
sendo brutalmente devorado por bichos da noite,
esses que criamos com  imaginação mitológica

O descreditar é também um lado do prisma da vida, 
renuncia-lo seria não deixar que viver te sugue todas as veias, 
que o sangue que doamos, ora por culpa, ora por se importar com o próximo, 
corra somente nesse corpo-teu.

Ando-correndo pela’quela ponte em busca do desapego da moral,
pela tortura que os fios envoltos em minha visão e pensamentos,
causam,
paralisando, 
impedindo-me de andar-correndo.

Meu desejo respira a pratica de queimar paginas de dicionários que inconsciente e
arrogantemente conceituam a vida e seus passos.
Essa ciência-jovem, que algo de mais sabe ela?
Ser é entregar-se aquilo tudo que se desconhece, 
e me torno soberbo ao definir isso.

Em qual lugar se chega para tocar o sentido das coisas,
e se for produto, aonde se compra?
- já que tudo tornou-se comercio-

Reconhece-te ao não enxergar teus pés-passos no mar?
As águas,
hoje,
expulsaram todos que nelas buscaram o espelho,
aquela procura de enxergar teus passos em caça de auto-conhecimento,
será por sermos pecadores e a elas levarmos nossos dejetos emocionais, 
sera resistência da nossa mãe natureza com tuas crias?

A união está em caos,
declinando-se a cada passo visto por muitos, para frente.
Tornamo-nos mais animais que nossos instintos.


Porta-retrato do mar.