quinta-feira, 10 de abril de 2014

Traje à rigor








Então, acordei extremamente embriagado.

Pouco a pouco,
adormeci com os pequenos goles ingeridos de cada pedaço queimado de arvore,
para em fim,
tornar-se folhas com rabiscos,
de perto do coração selvagem.

E ao levantar para as obrigações que nos caracterizam homens,
pedaços do velho espelho guardado tão cuidadosamente por gerações, estavam  espalhados por toda casa.
O melancólico céu cor de baunilha escurecia a cada momento que meu olhar tentava decifrar as formas que as nuvens desenhavam,
e começava a chover.

Pensei até que hoje seria um péssimo dia, ou,
os próximos sete anos,
devido aquela superstição feitiça,
carregada por meus ancestrais e
passada de antecessor  a progênito ,
até chegar a mim.

E desde as duas,
quando comecei a bebedeira,
adormeci as quatro.
Para as cinco estar de pé.

Ao finalmente tomar consciência da existência do meu espírito em meu corpo,
e achar tudo aquilo muito estranho,
desesperado telefonei a primeira pessoa que me veio a cabeça,
assustado com a noticia de que era um belo dia ensolarado e que tudo não passava de uma reprodução inconsciente do peso supersticioso carregado,
questionei se meu corpo e espírito, estavam no mesmo plano.

Os cacos do espelho espalhados pela casa,
que já conceituados por mim,
significavam azar durante os próximos sete anos,
não me impossibilitaram das necessidades diárias como tomar café, banho para manter-se limpo-e-apresentavél,
afinal,
tratava-se de uma decisão crucial a ser tomada,
despejada pela corporação em minhas costas,
 para não ser visto como animal ao olhar tão aparentemente correto do humano-social, o vestir-se bem, era “necessário”.

E sim,
Cumpri todos esses rituais religiosamente exigidos,
para melhor me apresentar, já que
a  imagem sobressai-se ao verbo,
em especial, na decisão a ter de ser tomada por mim.

Como esperado,
o valioso cheque-mate que corresponde a jogada final,
foi aplicado.

Com todos os caminhos já decorados e aprendidos,
essa redundância,
que até de olhos vendados, ainda estaria concreta.
Todos aqueles que me foram mostrados,
os que sozinho aprendi, assim
voltei para casa.

Tudo estava exatamente como já se tinha visto,
Até o céu cor de baunilha.

Há um cavalo em chamas dentro de mim,
que estão tentando domar
através desses fragmentos
de gerações-a-sociedade.
Solto então,
um grunhido desorientado para o viver.



Porta-retrato do mar.

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